Seja bem vindo ao blog ! ! ! ÉTICA NO COTIDIANO: Ética e o Cotidiano

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Ética e o Cotidiano

Ouve-se o termo ética. A imaginação translada-se para o reino da filosofia, das especulações, das reflexões pesadas. Não. Ética se vive no dia-a-dia, quer no praticar quer no falhar.

E a voz popular cria adágios que refletem tal fato. A lei de Gerson se tornou famosa: “levar vantagem em todas as coisas”. No futebol, onde nasceu o aforismo, funciona a tática de o jogador tentar levar vantagem em todas as jogadas, seja na defesa como no ataque. Mas se a transferimos para a vida das relações humanas, caímos na antítese da ética. Se não, vejamos.

Tal máxima põe o próprio interesse acima de tudo. Considera-se toda realidade e ação sob o prisma do benefício próprio. Levemo-la ao cotidiano segundo o ensinamento de Kant. “Age de tal modo que possas igualmente querer que tua máxima se torne lei universal”. Então toda pessoa que você encontrar saiba que ela e você querem tirar vantagem desse encontro. Imaginemos o que passa então em nossas cabeças. Enlouqueceremos pensando nos interesses que os outros têm em relação a nós e eles pensam o mesmo. Desaparecem radicalmente a espontaneidade e a sinceridade. Tramam-se dribles sutis para enganar o outro. E se aplicamos tal comportamento às relações afetivas, amorosas, familiares?

Pais e filhos conversam. Cada lado procura obter vantagem. E, em seguida, surge a pergunta: de que natureza será tal ganho? Como vivemos em sociedade capitalista, que põe o lucro financeiro no centro, a suspeita se encarreira nessa direção. A primeira grave e terrível conseqüência é a morte da gratuidade. Visualizemos um mundo em que essa dimensão altamente humanizante desapareça. Realizaremos o que o inglês Hobbes, na frieza saxônica, preconizou do comportamento humano: “homo homini lupus” – o ser humano se faz lobo para o outro humano -, seguindo as pegadas do poeta latino Plauto.

Rompemos esse círculo infernal, anti-ético, se formos à raiz primeira da ética. Reformularia o princípio kantiano da seguinte maneira: “age de tal maneira que a tua ação contribua para a melhor convivência humana”. Inverte-se a lei de Gerson. A vantagem não se coloca no princípio do próprio agir, mas no resultado do encontro entre nós. Se voltássemos ao húmus futebolístico, não se considera cada jogada, mas o conjunto do jogo. Em dado momento, o fato de outro levar vantagem torna mais fascinante a partida com surpresas, lances magistrais de ambas as partes. O critério maior não se põe na vantagem, mas na beleza do esporte. Nem no jogo funciona a lei de Gerson.

A trajetória de nosso agir configura-se surpreendente à medida que a gratuidade interfere. Esta se faz imprevisível. Rompe a monotonia do lucro, do interesse, do ganho. Introduz a beleza do espírito. Só este sabe ser gratuito. A ética transforma e enfeita o cotidiano, ao banhá-lo com o ouro do dom de si, da originalidade e do gesto generoso.

Link usado na pesquisa: http://www.jblibanio.com.br/modules/wfsection/article.php?articleid=115

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